O amor que nossos filhos precisam

Por Débora Maciel – Psicoterapeuta

Quando o bebê nasce ele precisa de cuidados, amor, atenção. Ele demanda bastante energia dessa mãe ou do cuidador. Neste momento é muito importante que esta pessoa responsável por este pequeno ser, venha abrir mão de si mesma para estar com ele quando ele precisar, quando solicitar. O bebê, no primeiro momento, tem esta mãe como continuidade dele, ou seja, o seio que o amamenta é ele e não o outro ser. Ele não consegue perceber ainda a existência do outro. Ele passou nove meses dentro da barriga, sem precisar procurar alimento, sem sentir frio ou fome, cólica ou insatisfação e agora se vê precisando chorar para que o alimento possa surgir, para que alguém possa aparecer e satisfazer uma necessidade que ele nem sabia que existia. E ele só precisa ser acolhido, precisa de alguém que possa olhar para ele como um ser único e mais importante do que qualquer outra coisa.

Esta mãe abre mão de dormir, de comer e muitas vezes de cuidar de si para estar presente para seu bebê, que agora clama por ela. Ele precisa dela e ela abre mão do seu narcisismo para suprir a necessidade real do bebê. Satisfazendo seu narcisismo primário para que ele possa ser uma pessoa melhor no futuro.

Ela quer o bem do seu bebê, mas ela também sente a necessidade de ser cuidada e vista neste momento tão importante, tão solitário e tão exigido. É neste momento que o pai vai iniciar seu contato com o bebê, se tornando um apoio para esta mãe, estando ali presente para ela, para a mãe, sendo sua companhia, sendo uma mão para ajudá-la, estar ali quando ela precisar de amparo, o que ela vai precisar e muito, para que ela possa respirar e se fortalecer (se nutrir) para retomar a longa jornada de ser mãe de um bebê recém-nascido.

Já dizia Jesus, “ame seu próximo como a ti mesmo”. Para eu amar o outro eu preciso me amar, e amar vai além de me olhar no espelho e cuidar do meu exterior, esse amor precisa vir de dentro, eu preciso sentir amor por mim internamente, para poder expandir esse amor para o outro. Com os filhos é a mesma coisa, eu não consigo dar aquilo que não tenho, eu não vou conseguir dar amor, cuidar, alimentar se eu não tenho isso comigo mesma. Quando olho para mim com olhar de amor, respeito e cuidado, posso fazer isso com meu filho também. Vamos dizer que para que tudo aconteça é preciso que parta de mim, de dentro de mim mesma. O pós-parto pode ser muito intenso e tudo pode parecer perdido no começo, mas eu preciso ter um apoio para conseguir ver a luz, para conseguir desempenhar a maternidade que meu filho precisa. Eu preciso ter alguém, uma rede de apoio para que eu possa proporcionar esse olhar para mim e estendê-lo por consequência para o bebê.

O amor que este bebê precisa no início da vida, é a presença materna, o seio que acolhe e alimenta, o seio que acalma e traz o alfa. Para me tornar uma mãe que o meu bebê precisa, nesta fase, eu preciso abrir mão da mulher, profissional, esposa, pessoa que eu era até o nascimento dele, se queremos um futuro mais saudável para nossos filhos, é preciso deixar a maternidade nos transformar. É de uma presença materna de qualidade que nossos pequenos precisam para serem pessoas melhores no futuro. E eu preciso estar aberta a esta transformação para que a maternidade real e necessária aconteça, eu preciso saber que a partir do momento que o resultado do exame de sangue der positivo eu serei uma pessoa diferente e melhor para o outro e para mim mesma. E que eu possa ser a mãe que meu bebê precisa. Pois ele irá precisar muito, mas muito de mim.

Mude sem medo, sem receio das criticas da família, dos colegas de trabalho, da sociedade. Diga, sou diferente agora, sou uma pessoa careta sim, se for preciso, vou abrir mão de algumas coisas, mas serei uma mãe que o meu bebê precisa, serei uma pessoa que me sentirei em paz comigo mesma, por estar fazendo o que é necessário para que o futuro dele seja melhor e o meu também.

Muitas vezes a cobrança materna pode nos seguir e nos atrapalhar de ouvirmos nosso instinto materno, o qual toda mulher possui dentro de si. Ouça você mesma, é essa voz dentro de si, que muitas vezes te dita o caminho, aquele caminho que te traz paz na alma, mesmo que o mundo te diga que está errada, mas você sabe que lá no fundo é o melhor caminho a se tomar, essa voz que te ajuda a ser uma mãe melhor.

Para ser mãe é isso, abrir mão de mim mesma pela minha cria. Renunciar meu próprio eu, meus desejos, minhas ânsias para estar com meu bebê. Para estar com esse serzinho que precisa e clama por mim. Não dá para ser mãe sem ver nossa vida mudar, e ela irá virar de cabeça para baixo muitas vezes. Não dá para ser mãe sem olhar para esse bebê e querer fazer tudo que for possível para ver o sorriso que vem de volta, que muda nosso dia, nossa vida. Ser mãe não é nada fácil, nem todo mundo ensina, ninguém avisa, mas faz toda diferença ser uma mãe presente, uma mãe que se doa pelo seu filho. Faz a diferença na nossa vida e, melhor ainda, na vida dos nossos filhos.

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